Artigo: fatores relevantes na exposição dos brasileiros a problemas relacionados aos medicamentos

Promoção do uso racional de medicamentos: um desafio contínuo

artigodeopiniao

Artigo de Thaís Martins Carneiro Sangiorgi ** publicado no jornal Cruzeiro do Sul, de Sorocaba

Na discussão dos diferentes tipos de intervenções para promoção ou avaliação do uso racional de medicamentos, uma questão inicial consiste na identificação dos possíveis problemas derivados do uso não racional, como o sobreuso (por exemplo, a prescrição excessiva de injetáveis) e o uso incorreto (como o de anti-inflamatórios em situações não inflamatórias). Observa-se que o uso inapropriado de remédios pode ter consequências como o surgimento de eventos adversos, incluindo os letais; o aumento da resistência a antibacterianos; a fármaco-dependência; entre outros.

Além disso, o uso inadequado e excessivo de medicamentos acarreta um desperdício de recursos – com frequência, pago pelos pacientes -, o que traz um considerável prejuízo devido à falta de resultados positivos e à incidência de reações adversas.

A integração entre prescritores e dispensadores permite, mediante à combinação de conhecimentos especializados e complementares, o alcance de resultados eficientes, beneficiando o paciente. No que tange ao uso de medicamentos, tanto na prescrição quanto na dispensação, existem forças contrárias que impulsionam a utilização irracional, como a grande influência da indústria farmacêutica e da mídia, disseminando informações que nem sempre condizem com as evidências científicas disponíveis.

A visita de propagandistas a consultórios, ambulatórios e hospitais constitui a ferramenta mais simples entre as usadas pela indústria farmacêutica para modificar padrões de prescrição e consumo de medicamentos. Na prática, ocorre certa pressão dos pacientes sobre o prescritor para receberem prescrição de fármacos dos quais tomaram conhecimento via propaganda direta em detrimento de outros de eficácia e segurança comprovadas. As ‘pílulas’ são apresentadas como milagrosas, estimulando o desejo de usá-las para controle de problemas como sobrepeso, desatenção infantil, insônia, constipação, disfunção erétil, tabagismo, rugas de envelhecimento e manifestações da menopausa. Isto retroalimenta a demanda pelos serviços clínicos; muitas vezes, em níveis mais complexos, diminuindo a relação custo/efetividade dos tratamentos, onerando de forma desnecessária os gastos com saúde e diminuindo a qualidade de vida dos pacientes. Além disso, as prescrições inadequadas ou mesmo ilegíveis, aliadas ao baixo nível socioeconômico-cultural dos pacientes brasileiros, são fatores relevantes na exposição das várias camadas que compõem a sociedade, em especial os idosos e as crianças, aos possíveis problemas relacionados com os medicamentos.

Neste processo, deve-se enfatizar também o processo educativo dos usuários ou consumidores acerca dos riscos da automedicação, da interrupção e da troca de medicamentos prescritos por conta própria, bem como quanto à necessidade de acesso aos serviços médicos no tocante à dispensação e utilização dos medicamentos sujeitos à receita médica.

Todos os profissionais da saúde devem estar comprometidos com políticas públicas que garantam a expansão da atenção à saúde, o que abrange as ações necessárias para a promoção do Uso Racional de Medicamentos. Este é o grande desafio proposto na atualidade, tanto para o governo como para as categorias profissionais e todos aqueles que podem contribuir, em seu dia a dia, para otimizar as ações que visam melhorar as condições de saúde e de vida da população brasileira.

**Thaís Martins Carneiro Sangiorgi é graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – SP (PUCC); farmacêutica; bioquímica e mestranda do Programa de Estudos Pós-Graduados de Educação nas Profissões da Saúde da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da PUC-SP.

FARMACÊUTICO