Faltam no mundo atualmente 7,2 milhões de profissionais de saúde, afirmou a diretora-adjunta da Organização Mundial da Saúde (OMS), Marie-Paule Kieny, durante a abertura do 3º Fórum Global de Recursos Humanos na Saúde, no domingo (10/11), em Olinda (PE).
Na segunda-feira (11/11), a OMS divulgou essa e outras informações que fazem parte do relatório “Uma Verdade Universal: Não Há Saúde sem Profissionais”, lançado durante o 3º Fórum Global sobre os Recursos Humanos da Saúde, que reúne mais de 1.300 participantes de 85 países, incluindo 40 ministros da Saúde, na capital pernambucana. E o déficit subirá para 12,9 milhões até 2035 com graves implicações para milhões de pessoas.
Embora reconheça melhorias desde o último estudo sobre o assunto, em 2006, o documento indica que 83 dos 186 países com informação disponível, ou seja 44,6%, ainda não atingiram sequer o patamar mínimo definido pelo Relatório Mundial de Saúde de 2006, que prevê 22,8 profissionais de saúde qualificados por 10.000 habitantes.
Outros 17 países (9,1%) ultrapassam o patamar mínimo, mas não atingem a meta da Organização Internacional de Trabalho (OIT), que aponta para 34,5 profissionais de saúde qualificados por 10.000 habitantes e há, ainda, 18 países (9,7%) que atingem essa meta, mas não o patamar dos 59,4 profissionais para 10.000 cidadãos.
Do total, apenas 68 países (36,6%) atingem ou ultrapassam a última meta, revela a agência da ONU para a saúde. No relatório, a OMS alerta que mais grave é o que se prevê, já que as estimativas da organização apontam para um déficit global de 12,9 milhões de profissionais, incluindo médicos, enfermeiros e parteiras, até 2035.
O motivo, segundo o documento, está no envelhecimento dos profissionais de saúde, que se aposentam ou deixam a profissão por empregos mais bem pagos sem ser substituídos, assim como o fato que poucos jovens entram no setor da saúde ou recebem a formação adequada.
A situação é mais grave quando a tendência de queda dos profissionais que atuam no setor coincide com um aumento da procura, não só porque a população mundial continua a aumentar mas, também, porque é cada vez maior o risco de doenças não transmissíveis como as cardiovasculares, entre outras.
Além disso, destaca a OMS, as migrações internas e internacionais de profissionais de saúde tendem a aumentar as desigualdades regionais. “As fundações para uma força de trabalho forte e eficaz na saúde para o futuro estão se corroendo diante dos nossos olhos por não estarmos correspondendo a formação de profissionais com a procura das populações de amanhã”, diz a diretora-geral adjunta da OMS para os Sistemas de Saúde e a Inovação, Marie-Paule Kieny.
Para evitar o pior, acrescentou ela, é preciso “repensar a forma como se ensina, como se forma, como se coloca e como se paga aos trabalhadores da saúde para que o seu impacto seja maior”.
Embora a Ásia seja a região onde se preveem maiores falhas em termos numéricos, é na África Subsaariana que o déficit se fará sentir de forma mais aguda, estima a OMS. A organização alerta que nos 47 países daquela subregião há apenas 168 escolas de medicina; há 11 países sem qualquer escola de medicina e 24 países têm apenas uma.
Na Américas, 70% dos países têm pessoal de saúde suficiente para assegurar os serviços básicos de saúde, mas muitos países ainda têm dificuldades ligadas à distribuição dos profissionais, às suas migrações e à qualidade da sua formação. A OMS pede a todos os países, incluindo os mais desenvolvidos, que estejam atentos aos sinais de alerta, sublinhando que 40% dos enfermeiros nos países ricos abandonarão o setor na próxima década.
Com uma profissão exigente e uma remuneração relativamente baixa, muitos jovens profissionais de saúde têm poucos incentivos para permanecer na profissão, alerta a organização.
Mais Médicos
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, aproveitou a abertura para fazer um balanço geral dos últimos anos no Brasil e apresentar o Sistema Único de Saúde (SUS), além do programa Mais Médicos. A questão da falta de profissionais foi apontada pelo ministro como um dos motivos para a conferência acontecer aqui.
“O Brasil está fazendo um grande debate nacional sobre como formar um profissional de saúde, sobre como ter um profissional comprometido com o que a população mais precisa, como usar estratégias inovadoras, ter ideias novas para levar médico para onde a população mais precisa. Como fazer um diagnóstico sobre a necessidade de formação de especialistas”, aponta Padilha.
Destacando os investimentos em infraestrutura, Padilha apontou que o país teve um aumento de 44% no número de unidades de saúde, 17% no número de leitos e apenas 13% no número de médicos nos últimos cinco anos. Esse descompasso teria feito o Brasil investir na atração de médicos estrangeiros, mas de forma provisória e emergencial, frisou o ministro.
O ‘tabu’ da vinda dos médicos de fora do país, por sinal, está sendo superado, afirmou Padilha, ao passo que se constata o aumento no número de consultas e a confiança da população nos médicos estrangeiros. “Nós estamos vencendo esse debate, estamos vencendo esse tabu”, afirmou.
Em conversa com a imprensa após a apresentação do programa, a diretora-adjunta da (OMS), Marie-Paule Kieny, foi questionada pela imprensa se o programa poderia ser levado para outros países. “Cada país deve olhar para seus próprias particularidades e problemas”, apontou a diretora-adjunta, lembrando que alguns países não teriam a mesma facilidade que o Brasil para atrair esses profissionais.
Com Agência Brasil e G1
Publicada em 12/11/2013